Floresta amazônica: a caixa d´água do Mercosul

domingo, 28 de outubro de 2012
"A morte é, num sentido vulgar, inevitável, mas num sentido profundo, inacessível. O animal a ignora, embora ela atire o homem na animalidade. O homem ideal, encarnando a razão, permanece alheio a ela: a animalidade de um deus é essencial a sua natureza; ao mesmo tempo, suja (malcheirosa) e sagrada."  -  Georges Bataille  -  A experiência interior

A revista científica “Nature” publicou recentemente um estudo realizado pela Universidade de Leeds, na Inglaterra, e pelo Centro de Ecologia e Hidrologia do Conselho de Pesquisa Ambiental Britânico. O trabalho ressalta a importância das florestas equatoriais da Amazônia e da República Democrática do Congo no regime de chuvas da região e de outras circunvizinhas. Segundo concluíram os cientistas que conduziram a pesquisa, o ar que passa sobre regiões de densa vegetação carrega duas vezes mais chuva do que aquele que passa sobre áreas com vegetação rala. As florestas, através do processo de evapotranspiração – a evaporação da água das folhas e dos rios –, contribuem para que as nuvens se tornem mais densas e transportadas pelos ventos que vêm do oceano se desloquem por milhares de quilômetros no continente. Através deste processo, batizado de “rios voadores” pelo grande volume de água que é transportado, as nuvens que se originam na região equatorial do oceano Atlântico, adensadas pela água evaporada da região amazônica, vêm irrigar toda a região da bacia do Rio da Prata, no Sudeste e Sul do continente. Uma distância de mais de três mil quilômetros; como se nuvens geradas no Norte da Europa se precipitassem na Grécia ou no Mediterrâneo.
O fenômeno ainda está sendo estudado e tem inúmeras implicações. Desde o fornecimento de água para a agricultura, o abastecimento das grandes cidades – Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba, Montevidéu e Buenos Aires, entre outras –, a geração de energia e todas as atividades que movimentam as economias da Bolívia, Paraguai, Brasil, Uruguai e Argentina. Quantos trilhões de reais não dependem deste aparentemente simples processo natural? Esta a parte mais interessante e intrigante dessa história.
A parte preocupante da história é o desmatamento. Apesar da redução do ritmo de derrubada da floresta, de 28 mil hectares por ano em 2004 para sete mil hectares por ano em 2011, a floresta amazônica encontra-se sob constante ameaça. O avanço da cultura da soja, a criação extensiva de gado e a exploração da madeira – atividades que de tempos em tempos, aqui e ali voltam a aparecer – ainda são os maiores perigos que rondam o ecossistema amazônico. Exemplo disso é o desmate de terras no Pará, realizado em grandes fazendas durante os anos de 2007 e 2008 e passíveis de punição, que continuam impunes segundo recente reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo. Outro aspecto preocupante nesta história é que o Código Florestal, depois de anos de discussões e muitas alterações, acabou tomando um formato que beneficiará os grandes donos de terra, exatamente aqueles que em sua maioria não têm interesse em preservar a floresta à custa de área de plantio – como se a terra disponível já não fosse suficiente!
Cientistas costumam enxergar longe. No caso da floresta amazônica prevêem os especialistas que a continuar o ritmo de desflorestamento, mesmo que considerado baixo, a diminuição da área da floresta provocará uma redução de 21% no volume de chuvas na Amazônia até 2050. Com menos chuva, diminui a evapotranspiração, ocorrem menos nuvens e, consequentemente, cairá menos chuva no Sul e Sudeste do continente sulamericano. Ninguém tem certeza de que será assim, dizem alguns. Os indícios, no entanto, são cada vez mais fortes. Pagaremos pra ver?         
(Imagem: fotografia de Walter Roil)

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