Chamfort

sábado, 19 de agosto de 2017
"Diógenes (Diógenes de Sinope, filósofo grego) simboliza a existência na contracorrente, tanto com sua grandeza quanto com seus limites. Seu desprezo pelo rebanho e sua exigência de coerência podem suscitar admiração. Desse modo, pode-se pensar que tanta ostentação na simplicidade indica imenso orgulho."  -  Roger-Pol Droit  -  Um passeio pela Antiguidade

(publicado originalmente na página da Academia Peruibense de Letras no Facebook)

Sébastien-Roch Nicolas tomou posteriormente o nome de Nicolas de Chamfort (1740-1794); foi poeta, jornalista, humorista e moralista francês. Aluno brilhante na escola e na universidade, logo tornou-se poeta premiado pela Academia e escreveu algumas comédias encenadas pelo Théâtre Français. A fama o torna secretário do gabinete de Madame Elisabeth, irmã do rei Luis XVI.

Em 1781 Chamfort foi aceito como membro da Academia Francesa de Letras. Tendo aderido à Revolução Francesa, tornou-se autor de diversos artigos publicamente atribuídos a outros personagens famosos da Revolução. Ocupou o cargo de bibliotecário da Biblioteca Nacional, mas acaba preso por ter se alegrado com a morte de Marat (líder revolucionário). 

Alguns dias depois é libertado da prisão mas permanece sob vigilância, pedindo demissão do cargo de bibliotecário. Ameaçado novamente com a prisão, Chamfort tenta o suicídio, sem no entanto vir a falecer. Logo após o ocorrido, falando a amigos, ironiza a incompetência com que havia tentado se matar: "O que vocês queriam? É o que dá ser desajeitado; não se consegue fazer nada, nem mesmo se matar." Porém, não consegue se recuperar do ferimento no rosto e no maxilar e morre alguns meses depois.

Se dependesse apenas das suas comédias e dos poemas que escreveu para sua amada, Chamfort seria apenas uma pequena referência de rodapé na história da literatura francesa. O que o imortalizou foram as notas escritas em cartões, que guardou em seus aposentos e nos quais registrou nos últimos anos da vida suas opiniões, reflexões, observações e casos sobre personagens com os quais convivia. 

Estas notas foram publicadas postumamente em 1803 sob título de "Máximas e pensamentos, personagens e casos". Suas máximas são amargas e céticas, mostrando a maneira crítica com a qual via a sociedade aristocrática, a monarquia e suas instituições, a Igreja e a alta sociedade de seu tempo. Chamfort coloca-se na mesma linha dos moralistas franceses como La Rochefoucauld, La Bruyère e autores como Rivarol e Vaunenagres, tendo sido lido e admirado por filósofos como Schopenhauer e Nietzsche. 

Abaixo apresentamos algumas citações de suas "Máximas e Pensamentos" (Editora José Olympio, 2007):

"Nas coisas grandes, os homens se mostram da maneira que lhes convêm mostrar-se; nas pequenas, mostram-se como eles são."

"O que é um filósofo? É um homem que opõe a natureza à lei, a razão ao costume, sua consciência à opinião pública e seu julgamento ao erro."

"Quando alguém quer se tornar filósofo, não se deve deixar desanimar com as primeiras descobertas aflitivas a respeito dos homens. Para conhecê-los é preciso vencer o descontentamento que eles causam, da mesma forma que o anatomista triunfa sobre a natureza, sobre os seus órgãos e sobre a própria repugnância para tornar-se habilidoso em sua arte."

"Aprendendo a conhecer os males da natureza, desprezamos a morte; aprendendo a conhecer os da sociedade, desprezamos a vida."

"A sociedade é composta de duas grandes classes: os que têm mais jantares do que apetite, e aqueles que têm mais apetite do que jantares."

"Tudo nos homens é igualmente vão, tanto suas alegrias quanto seus dissabores; mas é melhor que a bolha de sabão seja dourada ou azul, em vez de negra ou cinzenta."

(Imagens: pinturas de Edward Burne-Jones)

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